quarta-feira, 21 de julho de 2010

A PRIMEIRA VÍTIMA DA INQUISIÇÃO NO BRASIL

Ocorreu no final do século XVI (por volta de 1591) a primeira visita da Inquisição ao país. No Brasil a instituição não estava oficialmente instalada, cuja jurisdição pertencia ao Tribunal de Lisboa.

As Capitanias de Pernambuco e da Bahia foram, de início, aquelas que registraram as grandes brutalidades da Inquisição no país.

Uma moradora do Recôncavo Baiano teria sido a primeira vítima do Santo Ofício no Brasil.

Considerada cristã-nova (judeus convertidos à força ao catolicismo), era casada com um judeu que se dizia descendente dos macabeus, nome de uma tradicional família de judeus que liderou uma revolta no II século a.C., de cujo movimento surgiu uma poderosa dinastia judaica.

Os inquisitores teriam vindo ao Brasil inspecionar como andava a fé dos brasileiros e dos novos cristãos. Receberam denúncias de que a mártir ora praticava rituais católicos, ora judaicos. Quando esteve doente, apresentaram a ela um crucifixo, tendo a mesma fechado os olhos para não presenciar o símbolo católico. Tal postura era um insulto e um pecado grave.

Foi enviada à capital portuguesa, onde ficou presa numa câmara comprada especialmente para ela, tendo chegado a falecer na referida prisão, com mais de 80 anos de idade.

Seu processo continuou tramitando, sendo condenada à fogueira, mesmo estando enterrada havia mais de 10 anos.

Seus ossos foram desenterrados e queimados. O Santo Ofício mandou produzir uma imagem representando a "infiel" sendo atormentada no inferno, cercada por demônios, cuja imagem fora afixada na porta da igreja onde ela residia no Brasil. O objetivo era amedrontar eventuais desobedientes à Santa Inquisição.

A imagem fora posteriormente roubada, mas a sanha do inquisitor foi além: condenou filhos e netos da mártir, que se chamava Ana Rodrigues.

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segunda-feira, 19 de julho de 2010

IMORTAL DA ACADEMIA FRANCESA VISITA AMAZÔNIA E DECEPCIONA PÚBLICO EUROPEU AO SUSTENTAR MITOS E LENDAS DO BRASIL

Até os imortais têm defeitos. Já vimos em outro momento que o conhecidíssimo Voltaire era brigão, marrento, um pouco trapaceiro, e ainda chegou a mentir para entrar na Academia Francesa (ocupou a cadeira 33, em 1746).

Desta vez vamos falar de um outro imortal, amigo não somente de Voltaire, como também de outros nomes famosos da elite intelectual francesa, como Diderot.

Próximo da metade do século XVIII uma comitiva francesa se dirigiu à região amazônica a fim de proceder a várias pesquisas, dentre as quais verificar a circunferência da Terra, daí porque optaram pela exploração da linha do Equador.

Dos acadêmicos franceses, um se dedicou especificamente à pesquina natural, bem como aproveitou para estudar os índios amazônicos.

E elite intelectual europeia - principalmente a francesa - achou que a expedição à América do Sul iria desvendar lendas e mitos que recheavam o imaginário dos viajantes. Naquele tempo a Europa estava infestada de relatos fantasiosos que partiam do Brasil e dos demais países das Américas.

Mas Charles-Marie de La Condamine (que ocupou em 1760 a cadeira de nº 23 da Academia) não superou as expectativas europeias. Quando chegou a Paris, o acadêmico deu uma palestra para um público elitizado e sedento por ouvi-lo; mas o imortal entreteve o público com conversas que só aumentaram as crendices em voga naquele momento.

Perguntado sobre a cidade do El Dorado e sobre as famosas guerreiras Amazonas, La Condamine deu a entender que ambas eram reais. Tomou como base relatos indígenas, os quais, como muitos da época, também criam em lendas e mitos.

O imortal francês também agiu de má fé: apoderou-se de pesquisas feitas antes dele, as quais foram apresentadas como sendo de sua autoria. Uma destas pesquisas (feitas por um jesuíta suíço) ficou em poder do francês para que ele a publicasse posteriormente, cuja missão ele não cumpriu.

E o pior: o acadêmico passou uma péssima impressão dos índios brasileiros. Afirmou que os nativos eram mentirosos, crédulos, inimigos do trabalho, bem como incapazes de reflexão.

Finalizou dizendo que os índios levam a vida sem pensar, pois eram como crianças a vida inteira, de cuja idade nunca se apartavam, mesmo quando adultos e velhos.

Bastaram dois séculos para o antropólogo - coincidentemente um acadêmico francês - desmentir a tese de La Condamine sobre os índios e sua cultura. Estamos falando de Claude Lévi-Strauss, que ocupou a cadeira 29, em 1973.

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segunda-feira, 5 de julho de 2010

A ORIGEM DA EXPRESSÃO DE TRATAMENTO 'VOSSA EXCELÊNCIA' NA LÍNGUA PORTUGUESA

Devo escrever: "Vossa Excelência, discordo de seus projetos." ou "Vossa Excelência, discordo de vossos projetos."??

Acreditamos seja comum, em momentos que exijam erudição, formalismo, a presença da presente dúvida na hora de se decidir sobre a questão aqui levantada. Diz um velho adágio popular que 'nem tudo o que parece é.'

Vamos à resposta e ao resgate histórico em torno da questão:

Evanildo Bechara, membro da Academia Brasileira de Letras, afirma que tais tipos de títulos honoríficos surgiram no português entre os séculos XIV e XV. Na época realmente havia possibilidade de se usar as duas formas apresentadas.

Na história da literatura portuguesa consta o nome de um autoditada chamado Alexandre Herculano (1810 - 1877), escritor do Romantismo, autor de clássicos portugueses.

Deve-se principalmente a ele o tira-teima dessa celeuma. Embora não tendo formação acadêmica, Herculano era apaixonado por história, e, movido por sua paixão, percorreu todos os recantos de Portugal em busca de documentos e textos de cunho histórico.

Curiosamente, não tendo formação acadêmica, como dissemos acima, foi o responsável por iniciar uma nova fase na historiografia portuguesa, dando-lhe um cunho científico, uma vez que em seus escritos tentou abolir o misticismo, muito comum em Portugal.

Amante do medievalismo, investigou a fundo a história de seu país, resultando, dessa pesquisa, a resposta para o problema solucionado aqui.

Ele descobriu que o uso concomitante de 'seu, sua' e 'vosso, vossa' durou até aproximadamente o século XVII, momento em que o 'vosso, vossa' perdeu a prioridade para o 'seu, sua'.

Descobriu, também, que do século XVIII ao tempo de suas pesquisas o 'vosso' somente era utilizado em escritores desconhecedores da história da língua portuguesa ou em novelas e peças teatrais que retratavam o passado histórico, a fim de se evitar o anacronismo.

Desta feita, nem Portugal nem o Brasil devem usar os pronomes 'vosso, vossa, vossos, vossas', a menos que estejam acompanhados de algum título honorífico, sem exceção. Sendo assim, o primeiro exemplo trazido nesta matéria corresponde ao correto, ao passo que o segundo exemplo deve ser evitado. Portanto, não devemos empregar frases do tipo "Vossos sonhos, vossas palavras, vossa atitude" e sim "Seus sonhos, suas palavras, sua atitude", mesmo sendo dirigidas a altas autoridades, dignas do tratamento Vossa Excelência.

Alexandre Herculano é reconhecido não somente por gramáticos, como por historiadores e por literatos, dada a sua importância tanto na literatura, na história, como no estudo da língua portuguesa.

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domingo, 4 de julho de 2010

UM DOS TEXTOS MAIS CRIATIVOS JÁ ESCRITO PELO SER HUMANO

Em meados do século XVI, François Rabelais (1494 - 1553) compôs uma das críticas mais criativas acerca dos homens da Igreja Católica. A obra se chama Gargantua e Pantagruel.

Transcreveremos, abaixo, o texto em questão. Observe os neologismos adotados pelo autor, cuidadosamente criados para abrilhantarem ainda mais a crítica.

A nosso ver, a crítica de Rabelais se constitui num dos mais fabulosos textos já escritos pelo ser humano, não só pela criatividade em si, mas pela profundidade e fidelidade histórica da época.

Você, leitor e leitora, se ainda não conhecia este texto, aprecie e tente identificar cada uma das críticas aqui mencionadas.

Vamos ao texto:

"A ilha era habitada por pássaros grandes, belos e polidos, em tudo semelhantes aos homens da minha pátria, bebendo e comendo como homens, digerindo como homens, dormindo como homens . . . Vê-los era uma bela coisa. Os machos chamavam-se clerigaus, monagaus, padregaus, abadegaus, bispogaus, cardealgaus e papagaus - este era o único de sua espécie . . . Perguntamos porque havia só um papagau. Responderam-nos que . . . dos clerigaus nascem os padregaus . . . dos padregaus nascem os bispogaus, destes os belos cardealgaus, e os cardealgaus, se antes não os leva a morte, acabam em papagau, de que ordinariamente não há mais que um, como no mundo existe apenas um Sol . . . Mas donde nascem os clerigaus? ... - Vêm dum outro mundo, em parte de uma região maravilhosamente grande, que se chama Dias-sem-pão, em parte doutra região Gente-demasiada . . . A coisa passa-se assim: quando, nalguma família desta última região, há excesso de filhos, corre-se o risco de a herança desaparecer, se for dividida por todos; por isso, os pais vêm descarregar nesta ilha Corcundal os filhos a mais . . . Dizemos "Corcundal" porque esses que para aqui trazem são em geral corcundas, zarolhos, coxos, manetas, gotosos e malnascidos, pesos inúteis na terra . . . Maior número ainda vem de Dias-sem-pão, pois os habitantes dessa região encontram-se em perigo de morrer de fome, por não ter com que se alimentar e não saber nem querer fazer nada, nem trabalhar em arte ou ofício honesto, nem sequer servir a outrem . . . ou cometeram algum crime que poderá levar à pena de morte . . . então voam para aqui, tomam aqui este modo de vida, e subitamente engordam e ficam em perfeita segurança e liberdade."

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quinta-feira, 1 de julho de 2010

CONHEÇA A SENTENÇA DE MALDIÇÃO LIDA EM CERIMÔNIAS DE EXCOMUNHÃO NA IGREJA CATÓLICA MEDIEVAL

Ainda hoje o instituto da excomunhão é uma realidade na Igreja Católica. Certamente não tem o mesmo peso que outrora. Abaixo será transcrita uma parte da sentença que era lida para o excomungado. Leia atentamente, e observe a presença dos elementos que geravam temor e medo, suficientemente capazes de levar o punido ao desespero emocional.

A sentença de maldição era lida pelo bispo, que se encontrava cercado pelo clero, na presença do povo. O ambiente era sombrio: teto preto, sinos badalando e tochas acesas, um prenúncio do destino do excomungado.

Diz a sentença (atente para as palavras depois das reticências):

"Que sejam malditos sempre e por toda a parte; que sejam malditos dia e noite e a toda hora; que sejam malditos quando dormem, quando comem e quando bebem; que sejam malditos quando se calam ou quando falam; que sejam malditos desde o alto da cabeça à planta dos pés. Que seus olhos tornem-se cegos, que seus ouvidos tornem-se surdos, que sua boca torne-se muda, que sua língua fique pregada à abóbada palatina, que suas mãos não toquem em nada, que seus pés não andem mais. Que todos os membros do seu corpo sejam malditos; que sejam malditos quando de pé, deitados ou sentados; que sejam enterrados com os cães e os asnos; que os lobos rapaces devorem seus cadáveres . . . E assim como se extinguem hoje estas tochas por nossas mãos, que a luz de sua vida se extinga eternamente, a menos que se arrependam."

Na Idade Média, do pobre ao rico, do plebeu ao rei, todos evitavam ao máximo se depararem com uma situação como essa. Indiscutivelmente foi um excelente recurso utilizado pela igreja para manipular o pensamento e as atitudes das grandes massas.

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