domingo, 2 de outubro de 2011

MANUSCRITOS DE NAPOLEÃO BONAPARTE REVELAM O MODO PELO QUAL O TIRANO ENXERGAVA DEUS E A RELIGIÃO

Napoleão Bonaparte era um leitor assíduo: gostava de escritores famosos (Tácito e Gibbon, por exemplo) e não se continha ao lê-los: dava sua opinião acerca das obras lidas por ele. Dos autores selecionados por Napoleão, um deles era, inegavelmente, o preferido: Maquiavel.

O Príncipe passou a ser o livro de cabeceira do tirano, tanto que o clássico em questão foi lido muitas vezes por Bonaparte, e o provam as centenas de comentários (precisamente 773) deixados por ele, feitos nas mais variadas fases de sua vida, que vão desde a época em que foi 1º Cônsul ao desterro na Ilha de Elba.

Tratando do poder hereditário, Maquiavel afirmou que o dirigente político deve ser inteligente, e, agindo de tal modo, sempre permanecerá no poder, a menos que uma força superior o prive de tal condição. Sobre isto, Napoleão fez o seguinte comentário:

"A plebe indolente receberá homilias de bispos e padres que eu ordenar, bem como catecismo aprovado pelo núncio apostólico e não resistirá a esssa magia. Não lhe falta coisa alguma, uma vez que o Papa ungiu minha fronte imperial. Sob este ângulo, pareço mais inamovível que qualquer dos Bourbons".

A impressão que temos, por este comentário, é que Napoleão, assim como Platão, acreditava que a religião era importante, pois tinha o poder de manipular e de desarmar, moral e ideologicamente, eventuais inssurretos. No entanto, em outro momento o tirano parece cair em contradição:

"Festas e ofícios religiosos não poderiam servir-me. Sua extinção é compensada com maior utilidade para mim pela pompa de minhas festas civis".

E mais:

"Necessito apenas dos dóceis e jesuíticos, como eu os queria. De vez em quando maltratarei os "Padres da fé".

Abaixo, farei algumas transcrições, umas de Maquiavel e outras de Bonaparte, que comenta as palavras de Maquiavel: Este afirmou:

"Não ignoro como muitos foram e são de opinião de que as coisas do mundo são governadas pelo destino e por Deus, que os homens, com sua prudência, não podem corrigi-lo, de modo que não possuem, assim, nenhum remédio".  Em resposta, diz Napoleão:

"É o método dos preguiçosos ou dos fracos".

Ou seja, para Napoleão, a história não é impulsionada nem por Deus nem pelo destino. Para ele, o homem é o único responsável por seus atos. Voltemos a Maquiavel:

"Esta opinião é a mais aceita em nossos tempos, pelas grandes modificações das coisas, que foram vistas e se veem fora de qualquer conjetura humana. Pensando nisso, algumas vezes, em certas coisas, inclinei-me à opinião deles. Não obstante, para que nosso livre- -arbítrio* não seja em vão, creio poder ser verdade que o destino seja árbitro de metade de nossas ações, mas que nos deixe governar a outra metade, ou quase".

Pelo que se depreende, havia em Maquiavel um pouco de crendices até hoje nada comprovadas: a de que Deus (ou o destino) controla parte de nossos atos, enquanto a outra parte é de livre escolha dos homens. Vejamos o que disse Napoleão acerca do que escreveu o italiano Maquiavel:

"Santo Agostinho não observou melhor o livre-arbítrio*. O meu dominou a Europa e a natureza. Minha sorte, sou eu mesmo".

Por fim, em O Príncipe, Maquiavel cita Moisés, Ciro, Rômulo e Teseu como grandes líderes, e, sobre o primeiro deles, diz que "Embora não se deva citar Moisés, pois foi mero executor daquilo que lhe era ordenado por Deus, deve, entretanto, ser admirado apenas pela graça que o tornava digno de falar com Deus".

Sobre este texto do italiano, Napoleão foi enfático: "Não aspiro a tais alturas, sem as quais, aliás, poderei passar muito bem". Em outras palavras, o general francês assegurava que ele não precisava de Deus para levar adiante seu projeto de conquistar o mundo. Caiu ante o capitalismo inglês!
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* Segundo o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa e o dicionário Aurélio (última edição), há hífen em "livre-arbítrio", embora comumente seja escrito sem o mesmo. Por convenção do Acordo, na translineação de vocábulos hifenizados, adotamos um hífen no final da linha e outro no início da linha seguinte. Mais detalhes sobre tal convenção, acesse meu blog que trata sobre a língua portuguesa: Acordo Ortográfico: Translineação de palavras hifenizadas. Este blog adota o novo Acordo, daí o porquê de termos escrito "veem", sem acento circunflexo.

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