quarta-feira, 16 de novembro de 2016

KARL MARX: A ESPIRITUALIDADE DO ATEU E O LADO CAPITALISTA DO MAIS FAMOSO COMUNISTA

 

Imagem da internet

INTRODUÇÃO
Karl Marx (1818-1883) é conhecido por seu ateísmo de inclinação anticristã e por sua ideologia anticapitalista. O que não é tão familiarizado é o seu lado espiritual e seu afã por fortunas financeiras. O presente artigo mostrará, a partir de duas obras literárias (uma brasileira e outra norte-americana), os bastidores da vida desse homem que, graças às redes sociais, tem sido recentemente alvo de debates em todo o país.
O BERÇO RELIGIOSO DE KARL MARX
Nasceu num lar com tradição judia (de ambos os lados), havendo inclusive o registro de rabinos entre seus ancestrais. Seu pai se converteu ao protestantismo em 1816 ou 1817, por mera conveniência profissional: precisava continuar advogando depois da proibição de judeus em tribunais alemães. Segundo Josh McDowell, Marx cresceu num ambiente de reconhecida tolerância religiosa. Enviado para estudar numa escola religiosa, não firmou nenhum compromisso com a religião, pois seus pais, embora judeus e depois protestantes, aparentemente não nutriam o zelo pelo protestantismo, tampouco pelo judaísmo. Aos 19 anos de idade, Marx sofreu um colapso nervoso. Perdeu o pai no ano seguinte e uma década depois já era um comunista militante.
A POBREZA BATE ÀS PORTAS
Casou-se em 1843, resultando sete filhos desse matrimônio. O oitavo filho era bastardo, fruto de um relacionamento com a empregada doméstica, porém nunca o reconheceu oficialmente. A solução foi emprestar a paternidade a seu amigo Engels, que aceitou a encomenda do companheiro de luta.
Os dias de glória financeira ao lado dos pais se foram durante sua vida de casado, especialmente quando passou a residir em Londres com a família. O casal perdeu três filhos por agravamento das condições de moradia, má alimentação e atendimento médico inadequado.
Por diversas vezes Marx teve que se dirigir aos amigos a fim de pedir dinheiro emprestado para pagar as dívidas. Chegou a declarar: “Você sabe que sacrifiquei toda a minha fortuna à luta revolucionária. Eu não lamento isso. Bem ao contrário. Se tivesse que recomeçar minha vida novamente, eu faria o mesmo. Porém, não me casaria”.
O ardente desejo pela produção literária minou de Marx o empenho pelo trabalho braçal, o que fatalmente cooperou com sua extrema pobreza financeira. Em 1853, quando o alemão viveu o auge da miséria, era frequentemente visto com uma só roupa por muitos dias seguidos. Comumente perambulava pelas ruas, embebedando-se com facilidade.
O AMOR DE MARX PELO CAPITAL
Embora Marx lutasse com todo o seu vigor intelectual contra o imperialismo capitalista, ele não deixou de cobiçar uma boa dose de dinheiro fácil. Enquanto um tio de sua esposa agonizava, escreveu a Engels, seu parceiro de luta: “Se o cão morrer, estarei fora de complicações”. Referia-se ao ancião pela alcunha de “cão”, e o “fora de complicações” seria a possibilidade de ficar rico caso pudesse colocar as mãos na fortuna. Engels, o destinatário da referida carta, respondeu a Marx: “Congratulo-me pela doença do estorvador de uma herança, e espero que a catástrofe aconteça logo”. Foi nesses termos que os dois mais famosos comunistas se reportaram à oportunidade de o mais famoso deles ficar rico. Na quinta-feira, 8 de março de 1855, enfim Marx desabafa: “Um acontecimento muito feliz. Ontem soubemos da morte do tio de minha esposa, de 90 anos de idade. Minha esposa receberá cerca de 100 libras; até mais, se o velho cão não deixou parte do dinheiro à mulher que administrava sua casa”.
O mais surpreendente, no entanto, foi o modo como Marx se reportou à herança que receberia de sua própria mãe, em 1863: “Duas horas atrás chegou um telegrama dizendo que minha mãe está morta. O destino precisava levar um membro da família. Eu já estava com o pé no túmulo. Neste caso, sou mais necessário do que a velha senhora. Tenho que ir a Trier por causa da herança”.
Foi assim a relação que Marx fez entre a morte da própria mãe (e a de um tio da esposa) com a possibilidade de se deleitar com as heranças decorrentes das respectivas mortes. Marx se achava com as relações cortadas com a sua mãe, quando esta morreu. Mesmo assim, nenhum aparente sentimento brotou de seu coração, senão o desejo de herdar as posses da mãe. O desejo pelo capital falou mais alto.
O LADO ESPIRITUAL DO ATEU KARL MARX
“Sou ateu, graças a Deus”. Obviamente essa não é uma frase de Marx, porém ela pode ser empregada para explicar a relação entre o comunista citado e sua crença no espiritual. Vamos aos detalhes.
Marx se reportou a Deus não como crente, mas com um forte desejo de vingança. “Desejo me vingar daquele que governa lá em cima”, é o que escreveu num poema de sua autoria, chamado Invocação de alguém em desespero. Foi mais além. Sobre o Deus cristão, escreveu de forma mais contundente ainda: “Assim um deus tirou de mim tudo. Na maldição e suplício do destino. Todos os seus mundos foram-se, sem retorno! Nada me restou a não ser a vingança! Meu desejo é me construir um trono. Seu topo será frio e gigantesco. Sua fortaleza seria o medo sobre-humano. E a negra dor seria seu general”.
Em Marx & Satã, obra literária de Richard Wurmbrand (1909-2001), o pesquisador minucioso da biografia do pai do comunismo declara que havia uma estreita relação entre Marx e o satanismo. Numa peça teatral de autoria deste (ou seja, de Marx), chamado Oulanem, o famoso comunista se utilizou propositadamente de um anagrama para o nome bíblico Emanuel, que significa “Deus conosco”. De acordo com o dicionário prático satanista, esses anagramas são bastante utilizados em rituais de magia negra. No poema O Violinista, também de Marx, este escreveu: “Vapores infernais elevam-se e enchem o cérebro, até que eu enlouqueça e meu coração seja totalmente mudado. Vê esta espada? O príncipe das trevas vendeu-a para mim”.
Comentando o trecho do último poema citado, Richard Wurmbrand afirma: “Estas linhas ganham significado quando se sabe que nos rituais de iniciação superior dos cultos satânicos é vendida ao candidato uma espada encantada que assegura o sucesso. Ele paga por ela, assinando, com sangue tirado dos pulsos, um pacto segundo o qual sua alma pertencerá a Satanás após a morte”.
POUCO ANTES DE MORRER, KARL MARX É FLAGRADO ORANDO COM VELAS ACESAS
Marx foi um forte candidato a ter depressão, o que efetivamente ocorreu depois da morte de sua esposa, em 1881. Perdeu três filhos por desnutrição e por falta de higiene. Duas outras filhas suicidaram-se, cujo destino também fora seguido por um genro. O suicídio de sua filha Laura e de seu genro, o socialista Laforgue, se deu depois que o casal perdeu três de seus filhos (netos de Marx). Tudo concorria para a crença de que a vida de Marx estava emaranhada num poço de maldição.
Pouco antes de morrer, já em profunda depressão, foi flagrado em seu quarto, orando “diante de uma fileira de velas acesas, atando a fronte com uma espécie de fita métrica”, segundo Wurmbrand, que postulava pela crença de que Marx estava praticando algum ritual ligado ao satanismo. Independentemente da confirmação dessa afirmação, o certo é que o ateu Karl Marx dava sinais claros que contradizem o comportamento de um ateu convicto. Indiscutivelmente ele experimentou o mesmo vazio do filósofo Voltaire, que, no leito de sua morte, não somente recorreu à presença de padres católicos, como também expressou em palavras e gestos a dor de morrer com o vazio existencial (espiritual) a que tanto se reportam aqueles que já declararam passar por essa experiência.
Até hoje, a literatura mundial parece negligenciar os últimos dolorosos minutos de vida de Voltaire, Marx e Aristóteles. Há quem afirme que Darwin, que não era ateu, tenha passado por experiência semelhante. Mas essa é outra história.
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TEXTO: Robério Fernandes, autor do blog.
FONTES DE CONSULTA: A Cristofobia no Século XXI, de Daniel Chagas Torres, e Evidências da Fé Cristã, de Josh McDowell.
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quarta-feira, 2 de novembro de 2016

A MEMÓRIA DOS MÁRTIRES E AS VISITAS AOS TÚMULOS NOS PRIMEIROS SÉCULOS DO CRISTIANISMO

 
 
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O hábito de fazer oferendas e petições junto aos túmulos dos mortos (e para os mortos) não tem origem cristã, tampouco há registros apostólicos sustentando tal prática. Partiremos dessa perspectiva, porém não nos deteremos em demonstrar a origem histórica não cristã, e muito menos faremos uma análise teológica de textos bíblicos utilizados pró e contra esse antigo costume.
O QUE DIZ A APOLOGIA CATÓLICA?
Segundo a apologia católica, desde o século II existem registros de que os vivos se dirigem aos sepulcros com a finalidade de render orações pelos mortos. Personagens como Tertuliano e Cipriano (no século III), Cirilo de Jerusalém (no século IV) e Crisóstomo (no século V) são citados como defensores desse costume, que é apontado como sendo de tradição apostólica.
BISPO CATÓLICO SE POSICIONA CONTRÁRIO À OFERENDA AOS MORTOS
De acordo com Agostinho (354-430), o Bispo Ambrósio (um dos principais doutores da igreja dos primeiros séculos) proibiu o costume de se fazer oferenda aos mortos por duas razões principais: uma, porque os fiéis tinham o hábito da embriaguez durante os atos litúrgicos; a segunda, porque tal costume se assemelhava a uma festa pagã, chamada de parentales (ou parentais). Vejamos as palavras de Agostinho, em Confissões, em cuja oportunidade ele falava de Mônica, sua mãe:
“Assim, um dia, como costumava na África, levou papas, pão e vinho puro à sepultura dos mártires, mas o porteiro não quis permitir suas ofertas. Quando soube que essa proibição vinha do bispo, resignou-se tão piedosa e obedientemente, que eu mesmo me admirei de quão facilmente passasse a condenar o hábito, e não a criticar a proibição de Ambrósio”.
Um pouco adiante, Agostinho prossegue:
“Tão logo, porém, soube que o ilustre pregador e mestre da verdade [Ambrósio] proibira tal costume – mesmo para os que o praticavam sobriamente [ou seja, sem se embriagarem], para não dar aos ébrios azo de se embriagarem, e porque essa espécie de parentales era muito semelhante à superstição dos pagãos – ela se absteve de muito boa vontade”.
Notamos, facilmente, que a mãe de Agostinho (canonizada como Santa Mônica) se absteve de praticar oferendas aos mortos depois de ser advertida pelo bispo católico acerca da semelhança que havia entre essa tradição e o costume pagão.
No entanto, segundo o próprio Agostinho, sua mãe não deixou de fazer visitas aos túmulos dos mártires, mesmo após os conselhos do bispo católico. Assim prossegue o autor de Confissões:
“No lugar da cesta cheia de frutos da terra, ela aprendeu a levar ao túmulo dos mártires um coração cheio de puros desejos, dando o que podia aos pobres. Celebrava assim a comunhão com o corpo do Senhor, cuja paixão serviu de modelo aos mártires em seu sacrifício e coroação”.
Conforme se vê, Mônica não deixou de visitar os túmulos dos mártires, mas apenas deixou de lhes fazer oferendas. Nota-se, mais ainda, que aparentemente ela não tinha o hábito de peticionar junto ao sepulcro, mas apenas o de fazer oferendas, cuja prática foi substituída pelas orações depois da advertência do bispo, que, segundo se sabe de sua biografia, não rompeu com a tradição de render orações pelos mortos.
A MEMÓRIA DOS MÁRTIRES PASSOU A SER VISTA COMO ESTÍMULO À PERSISTÊNCIA NA FÉ
Provavelmente na transição do primeiro para o segundo século, quando a igreja já havia experimentado duras perseguições, os cristãos que, naquela ocasião, mantinham firme o pensamento apostólico, passaram a dar maior significância à memória de cristãos cuja vida piedosa servia de exemplo a ser seguido, especialmente pelo fato deles não negarem a fé diante da espada romana. Os mártires cristãos eram vistos como modelos a serem seguidos.
Veja-se, por exemplo, o próprio Justino Mártir (100-165), que se converteu ao cristianismo depois que tomou conhecimento de como os mártires cristãos não abdicavam de sua fé, ainda que pagassem com a própria vida pelo fato de permanecerem crentes em Jesus Cristo. Ou seja, ser assassinado pela simples razão de não negar essa crença era visto como um ato encorajador, nascendo daí o costume de perpetuar a memória desses mártires, inclusive com visitas aos túmulos, como foi o caso de Mônica.
A MEMÓRIA DOS MÁRTIRES E A PERMISSÃO PARA A LEITURA DOS LIVROS APÓCRIFOS DURANTE OS CULTOS
Não entraremos no mérito sobre os motivos pelos quais são rejeitados os livros apócrifos, mas pontuar que, embora alguns dos pais da igreja tivessem objeções em relação à canonização de alguns desses livros, por sua vez assentiam que alguns deles poderiam ser lidos na igreja, “para edificação” (veja-se a posição de Jerônimo a esse respeito), como foi o caso da carta de I Clemente e de uma carta enviada pelo bispo de Roma ao bispo de Corinto, por volta do ano 170 d.C., cujas obras eram constantemente lidas, para edificação, na igreja da referida cidade grega.
No Cânon 47 do terceiro Concílio de Cartago, em 397 d.C., chegou-se ao consenso de “... que seja, contudo, permitido que as paixões dos mártires sejam lidas na celebração das datas dos mártires”, demonstrando um prenúncio para a oficialização das datas comemorativas dos então futuros santos católicos, todos considerados mártires para a referida denominação eclesiástica.
O que se quer dizer, portanto, é que, no século IV (o mesmo em que viveram Agostinho, Mônica e o bispo Ambrósio), a igreja concebia uma significativa importância à memória daqueles que haviam morrido em nome da fé cristã.
MÔNICA VISITA OS TÚMULOS DOS MÁRTIRES E NÃO DOS MORTOS “COMUNS”
Cabe inicialmente esclarecer a diferença entre um mártir e um não mártir. O primeiro é uma pessoa que sofreu duras perseguições por causa da fé que professa. Não se trata, aqui, de uma pessoa que opera milagres depois da morte. O não mártir é aquele que não sofreu duras perseguições pela fé que abraçou.
De posse desse ligeiro esclarecimento, voltemos agora para o caso de Mônica. Note-se que, em todo o momento, Agostinho não faz alusão aos túmulos dos parentes, mas apenas aos túmulos dos mártires, ou seja, de cristãos que, em vida, eram considerados exemplos a serem seguidos. Na verdade, Agostinho não sinalizava de forma positiva no que concerne à prática de orar pelos mártires ou pelos mortos “comuns” (para saírem do purgatório), mas para fazer súplicas aos mártires – uma demonstração de que naquele século já estava bastante solidificada a crença de que os “santos” operavam milagres.
QUANDO E COMO SURGIU A CRENÇA DE QUE OS MÁRTIRES PODEM OUVIR AS ORAÇÕES DOS VIVOS?
Antes de entrarmos no mérito da pergunta, convém esclarecer que o fato dos cristãos que viveram nos primeiros séculos seguintes à morte dos apóstolos terem adotado o hábito de fazer visitas aos túmulos com a intenção de render súplicas aos mártires não é prova cabal que autoriza essa crença, a saber, a de que os mortos ouvem a oração dos vivos (e aqui fazemos um juízo de valor frente às Escrituras).
O que aconteceu é bem simples de explicar: com a difusão de doutrinas ditas apócrifas (gnósticas, pagãs, etc.), a igreja foi perdendo gradativamente a identidade original, notadamente quando pensamentos e práticas pagãs passaram a se confundir com pensamentos e práticas cristãs. A própria conversão de Constantino e os efeitos dessa conversão contribuíram maciçamente para essa mistura de doutrinas e de atos litúrgicos, embora no primeiro século já havia falsos mestres entre os cristãos. Nascem e difundem daí as crenças e as práticas de oferendas e intercessões pelos mortos, bem como a de que eles podem ouvir as súplicas dos vivos.
CONCLUSÃO
Não está claro, do ponto de vista documental, que, no primeiro século, os primeiros cristãos tivessem o hábito de se dirigirem aos túmulos com a missão de fazer oferendas ou de renderem súplicas aos mártires, ou ainda de orarem pelos mortos. Pelo menos é certo que em suas epístolas, os escritores neotestamentários não se reportaram, tampouco abonaram essa prática. Tal costume nasceu, indubitavelmente, da perda da identidade original dos cristãos, cujo marco cronológico se deu muito provavelmente a partir do último meado do segundo século ou mesmo do início do terceiro século.
Uma coisa é perpetuar a memória dos parentes mortos - inclusive dos mártires. Outra coisa é valer-se dessa tradição milenar como um imperativo dogmático, capaz de romper com o ensinamento apostólico. Ou seja, a igreja apóstata não somente recepcionou como também difundiu a ideia de que os mártires podem ouvir e atender às súplicas dos vivos, contrariando a Bíblia sagrada.
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